segunda-feira, 14 de junho de 2010

ALEMANHA

Como ideia geral há um princípio muito manifesto a partir de onde tudo se concretiza: posse e circulação de bola.
A partir deste princípio de jogo emergem duas dinâmicas de criação e aproveitamento dos espaços, a atracção por jogo interior e a excelente temporização do ritmo da circulação da bola.

Estruturada a partir de um 4x2x3x1, a Alemanha jogando no interior do adversário criava sucessivamente espaços. O princípio é entrar com a bola no meio para atrair. Com uma sucessão de paredes (passe e devolução) e de pontes (3º homem) os jogadores da Austrália eram atraídos a fechar-se na zona da bola e assim a libertar espaços que depois eram aproveitados pela Alemanha. Por exemplo, os centrais Mertesacker e Friedrich a tocar com os médios, Schweinsteiger e Khedira a partir de trás, em paredes sucessivas forçavam o adversário a sair à bola. Em paredes umas vezes, em pontes outras, entrando de Mertesacker para Ozil voltando para Schweinsteiger por exemplo, atraía a Austrália, e assim libertavam-se espaços que eram aproveitados pelos quatro jogadores da frente.
Muitos jogadores a pedir para a bola entrar para finalização e tanto Lahm como Ozil com muita qualidade a meter passe para esses jogadores. As desmarcações circulares, trazendo o adversário ao encontro da bola para simular e pedir a bola em profundidade permitiam que o timing da desmarcação fosse sempre o ideal, fazendo com que a bola entrasse e nunca houvesse fora-de-jogo. Porque havia interacção de quem tinha a bola e de quem a pedia.

No momento de entrada da bola era concretizado principalmente por um jogadores que se encontrava de frente para o jogo. E tem a ver as duas dinâmicas que se fala no início: circulação e temporização. O jogo em «W», ir à frente para vir atrás para voltar a ir à frente em toques curtos permitia variar o sentido do jogo e estar constantemente a receber a bola de caras.
Recebendo a bola de frente, existindo a oportunidade de ver o jogo antes de receber a bola, o campo é grande. Abrem-se possibilidades de entrada da bola, isto porque a bola é pedida constantemente pelos jogadores da frente nos timings ideais. Lahm foi muito importante na entrada da bola e na temporização da circulação da bola. A gestão das diferentes velocidades a dar ao jogo, gerindo o ritmo para atrair ou para entrar para golo, estando a diferença relacionado se metia passe no pé ou no espaço. Por exemplo, as situações de condução interior para atrair o adversário, libertando Muller por fora e os médios centro atrás - que iriam receber de frente - ou o meter passe de primeira para Ozil nas entre linhas eram condicionadas em função do critério que as duas dinâmicas ofereciam. Schweinsteiger também recebia a bola bastantes vezes, e muitas de frente para o jogo, e quando o fazia também era benéfico para a dinâmica da equipa porque ele oferecia um registo diferente à circulação da bola: passe interior, passe longo para segunda estação e condução de bola, para além do remate de longe, que não aconteceu.

No momento da finalização aparecem sempre quatro zonas ocupadas pelos médios e pelos avançados. O critério é o princípio de jogo posicional e as circunstâncias.
No primeiro momento do jogo - nas saídas de bola pelo guarda-redes, nas faltas ou nos lançamentos laterais - o princípio de posse e circulação de bola era claramente manifesto. Nas transições defesa-ataque a mesma ordem: a intenção de manter a bola e circulá-la para atrair o adversário, no entanto com uma condição: no meio-campo adversário.
Assim, o primeiro passe era muitas vezes vertical, acompanhado por uma desmarcação agressiva para esticar o jogo. Ou seja, num primeiro momento havia uma aceleração do ritmo, com uma intenção, a instalação no meio-campo adversário. Depois da entrada da bola no meio-campo adversário, havia temporização - passe recuado muitas vezes - para manter a bola e começar a atrair. Não por etapas mas dentro desta lógica. O prazer de ter a bola, mérito de Low e dos jogadores que escolheu, como princípio de jogo negava a procura «louca» pelo contra-ataque. No entanto, com a entrada de Cacau e Marin, mais descontextualizados, o ritmo mudou e tornou-se mais frenético fazendo com que o princípio de posse não tivesse tanta eficiência.

Em conclusão, a dinâmica da Alemanha, assente num princípio de posse e circulação da bola, para que a partir da sua utilização se possa atrair o adversário e libertar espaços e timings de entrada da bola para finalização. Isto pelo aparecimento no momento certo de Muller, Podolski, Ozil e Klose, apoiados por um jogador que recebia a bola de frente para o jogo e assim aumentava a velocidade para entrada da bola. Ao invés, se o timing de entrada se fechasse, a equipa, pelo prazer de ter a bola e pela redundância que apresentou tinha qualidade para voltar a circular para atrair e a criar espaço novamente.

Simples? Talvez. Se não se perder tempo com máquinas de musculação e se não se jogar com o Pepe no meio-campo talvez seja mais fácil de se alcançar ...

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