domingo, 25 de abril de 2010

Saber ouvir

"Me volvió a asombrar el juego impecable y hermoso de Xavi, cómo maneja los tiempos, cómo conoce el juego para regularlo casi a su antojo, qué precisión en los pases, como quita por anticipación y llega para poner pelotas de gol, o él mismo llegar al gol. En fin un jugador de todos los tiempos y de toda la cancha"

Ángel Cappa

terça-feira, 6 de abril de 2010

Uma opinião



Verdadeiramente MODELO DE JOGO

Há bem pouco tempo, em conversa com um amigo e Coordenador Técnico da Formação de um clube ouvi um desabafo que, mais sílaba menos sílaba, versava o seguinte: O Dep. de Formação está já identificado com uma ideia de jogo, uma ideia de organização, uma cultura própria, o potencial começa a manifestar-se sob a forma de miúdos de 17, 18 e 19 anos com capacidades muito acima da média (alguns dos quais eu conheço pessoalmente muito bem, pelo que assino por baixo), mas o PROCESSO esbarra sempre no momento de culminar o dito processo, ou seja, no aparecimento desses jogadores na equipa sénior. Razões?!?!? Lembrei-me logo, no acto, da urgência dos treinadores em ganhar e consequente falta de tempo e estabilidade contractual para ponderar sequer o desenvolvimento desses jogadores. Acto seguido, falou-me da incoerência (e muitas vezes incompatibilidade) entre as ideas de jogo dos sucessivos treinadores de 6b meses da equipa sénior e aquelas que, durante anos, são preconizadas na Formação. As ideias chocam em conteúdo, em forma, em duração... Em demasiadas coisas!
Esta conversa encorajou-me a fazer um esforço para sintetizar, em 2 capítulos por uma questão prática, mas com um tema só, a raíz deste problema nas linhas que se seguem. De frisar (nunca é demais) que esta é a MINHA visão sobre o problema.

1) O PROBLEMA ORGANIZACIONAL.

FALTA DE UMA IDENTIDADE DE CLUBE. E quando falo em CLUBE não estou a falar da identidade da equipa sénior. Este problema começa no presidente do clube, passa pelos funcionários todos e termina no jogador não utilizado da equipa de pré-escolas e manifesta-se em questões de organização do próprio clube. Em 99,9% dos clubes existe o Departamento de Futebol e o Departamento de Formação. E eu pergunto: Isto não é, já de si, uma ideia estúpida? O Departamento de Futebol, se é de FUTEBOL, deve ser do Futebol TODO do Clube que incorpora em si a equipa sénior bem como toda a Formação. Mas na maioria (para não dizer totalidade) dos clubes há aí no meio uma fronteira. Começa logo por o chefe do Departamento de Futebol ser mais amigo dos empresários do que do Clube, não conhecer sequer quem são os treinadores que estão na Formação e durante toda a época não assistir a um único treino ou jogo dos Juniores, Juvenis, Iniciados, Infantis, Escolas e por aí adiante. E é essa fronteira, que muitos podem tentar legitimar com argumentos que me parece sempre que têm tanto de infundados, como de irracionais e em alguns casos até idiotas reveladoras de falta de conhecimento, que só causam prejuízo aos próprios clubes, que fazem com que tenham miúdos de 17, 18 e 19 anos com potencial para se tornarem profissionais mas não joguem, não se valorizem a si, aos seus passes e ao seu clube gerando sucesso e recursos ao CLUBE. Senão vejamos: A lei actual até protege e beneficia quem pense numa lógica coerente e promova o aparecimento desses jovens, mas continuamos aquém disto! Se ele ganha aos poucos lugar na equipa, se ele se destaca, se ajuda a equipa a ter sucesso e, em última análise (mas essencial quando se fala de clubes de dimensão média/baixa) se é transferido para clubes de dimensão superior, gera receitas importantíssimas para o Clube. E que fazer com essas receitas? Continuar a investir no Departamento de Futebol (em toda a sua extensão, se bem me faço entender) para tornar o Clube sustentável financeiramente e estável ao nível das competições que pretende disputar, seja II Divisão, II Liga, I Liga, Liga Europa ou Liga dos Campeões.
Ou seja, o processo só é PROCESSO, ser for um só e coerente. Não pode haver um processo para o Futebol e um processo para a Formação. Isso é uma aberração!!!

2) O PROBLEMA FUTEBOLÍSTICO

Quando se pensa em Formar, é ponto assente que tudo tem de ser equacionado a longo prazo. Ou seja, o PROCESSO de fazer chegar jovens à equipa sénior só é EFICIENTE se houver uma identidade de jogo. Se não houver coerência e uma identidade só os jogadores não aparecem? Aparecem, pois. A prova disso é o que temos vindo a fazer até aqui. Continuam a aparecer jogadores portugueses com qualidade. O PROBLEMA É QUE APARECEM POUCOS!!!! Daí termos mais de 50% de jogadores estrangeiros nas ligas profissionais. Se queremos ter mais jogadores portugueses de qualidade e clubes menos falidos temos de começar por definir uma ideia de Jogo para o Clube. E essa ideia deve estar ligada a um Futebol com a melhor qualidade POSSÍVEL tendo para isso de ter em conta a realidade dos miúdos que se tem actualmente nas várias equipas do Clube. Porque não existe UMA boa ideia. Existem ideias ajustadas ao contexto e que promovem desenvolvimento do mesmo e ideias inoperacionalizáveis, ou por outras palavras, más ideias. Se eu pego num Clube como o Lousada (perdoe-me o Clube pelo exemplo, mas preferi dar o caso de um Clube onde trabalhei) não posso ter um Modelo para jogar à Arsenal. Porque os jogadores que tenhos dos Pré-escolas aos Seniores não permitem AINDA. Tenho de começar por ideias que possamos IR CONCRETIZANDO, que estejam ligeiramente acima do que já podem fazer, para induzir superação, mas que sejam realistas. Porque um Modelo, para ser um bom modelo tem de ser actualizável, de poder sofrer evoluções. Porque se eu pego no Clube hoje e trabalho de forma coerente, passados 3 ou 4 anos, os 200 jogadores que tenho no clube dos 6 aos 30 anos já apresentam capacidades diferentes. E por isso as ideias têm de evoluir. Se calhar, aos fim de 7 ou 8 anos nesta lógica, um clube pequeno já pode jogar à Arsenal. Porque entretanto os jogadores evoluíram, o Clube começou a ganhar algum respeito, começou
a atrair mais e melhores jogadores... E por aí adiante. Daí a necessidade de ter também um Modelo de Treino e um Modelo de Treinador. É fundamental escolher treinadores de acordo com essa ideia desde os seniores até aos pré-escolas e iniciar o processo. Cada equipa não pode ser a quinta particular de cada treinador. As pessoas devem trazer conhecimentos para enriquecer a IDENTIDADE do Clube e não para a adulterar. Senão caem fora! Quando se fala de jogadores vem logo a ideia de EQUIPA à cabeça. Mas quando se fala de treinadores não deve ser igual? Evidentemente que sim. Uma verdadeira EQUIPA TÉCNICA só se comporta como tal se todos possuem um pensamento, em termos de jogo e de treino, que revela um padrão. O que é esse padrão? É a cultura de jogo de um Clube.

Por esta altura, atrevo-me a tirar da cabeça do leitor a ideia de que «Claro. A ideia é boa mas lá no meu clube pequeno isto é impossível. Sem dinheiro e com aqueles directores...». A parte do presidente
entendo, o resto não. Há um aspecto essencial para se ter sucesso num CLUBE que é ter um responsável máximo que seja honesto, organizado e que saiba delegar nas pessoas certas e depois defendê-las quando for necessário. A DIMENSÃO INICIAL DO CLUBE, NA MINHA OPINIÃO, É ABSOLUTAMENTE IRRELEVANTE PARA O SUCESSO. Ainda que peguemos num clube de bairro é possível. É POSSÍVEL!!! Se calhar vamos começar só com 40, 70 ou 100 miúdos, com seniores ou sem eles, tendo os jogadores que pagar 3 ou 30 euros por mês para serem jogadores do clube, ou os pais de serem sócios para o filho poder treinar e jogar, isto para garantir que temos treinadores (eles são o coração do processo) com qualidade suficiente para implementar as nossas ideias de clube e de jogo.
Quanto aos directores, se calhar temos de lhes explicar porque vamos fazer agora de forma diferente ao fim de 30 ou 50 anos de história de clube, temos de nos chatear com o roupeiro para que ele não proiba os miúdos de jogarem à bola no balneário desde que não partam nada, com o enfermeiro para que ele entenda que os miúdos não vai entar em campo cansados porque estiveram na brincadeira com a bola durante a concentração. Teremos se calhar de explicar aos sócios que é possível que os seniores possam descer da II Divisão para a III Divisão na fase inicial de implementação da NOVA IDEIA DE CLUBE porque os recursos financeiros precisam de ser canalizados para todo o Clube... Já sei... «Quem é que convence os sócios disso?» Eu repondo: Alguém que saiba comunicar as suas ideias, que saiba persuadir e agregar as pessoas à volta de uma ideia que tem no horizonte um futuro melhor para o Clube.
Em suma, Boas ideias e MUITO TRABALHO, E MUITA LUTA, mas é possível! Tenho essa convicção absoluta! Ao longo destes curtos, mas intensos anos em que vivo mergulhado no Futebol da cabeça aos pés já convivi com bons exemplos aqui e acolá.
Com resultados evidentes, de melhoria, de evolução, de estar no bom caminho... Pensei agora durante 30 segundos se ia contar este exemplo, por não querer dizer o nome do clube, por temer algum inconveniente...
É sempre mais fácil dar o exemplo do Barcelona, mas dizem-me muitas vezes que não é um bom exemplo porque é um clube rico, de outra dimensão, bla, bla, bla... Por isso que se lixe! Aqui vai: Há uns anos treinei os juniores do Paredes. Cheguei ao Clube a meio da época. Vi um Clube pobre, com pouquíssimos recursos, com uma equipa na II
Divisão mas com um orçamento muito mais baixo do que todos os outros Clubes, mas como uma IDEIA que era assumida por... Praticamente toda a gente (não era tudo perfeito como é obvio). Quando cheguei, aos poucos, fui pegando nos juniores que até ali eram treinados pelo treinador dos seniores. O Modelo de Jogo estava instituido, os
treinadores da Formação eram poucos e não eram Mourinhos, nem Fergusons, nem Wengers. Tinham algumas carências. Era uma das lacunas do DEPARTAMENTO DE FUTEBOL (aqui havia um Departamento só). Umas das soluções encontradas para alguns escalões foi inclusivamente optar por jogadores da equipa senior, aqueles com algum perfil. Ou seja, o essencial é que todos estavam IDENTIFICADOS com uma ideia de jogo, não era como a do Barça nem do Arsenal. Era a melhor ideia do Mundo porque era uma A IDEIA QUE SERVIA AO UNIÃO DE PAREDES. Foi talvez um dos melhor exemplos que já vi de CLUBE, até pelo facto de ser um Clube pequeno e com muito poucos recursos. Respirava-se ali um ambiente de VERDADEIRA UNIÃO. O balneário dos seniores era o balneário também dos juniores e de outros escalões. A porta de saída era a mesma. Todos os JOGADORES DO CLUBE se cruzavam. Os seniores conheciam os infantis, juvenis e os juniores. Mais Importante: Sempre que um jogador dos juniores ia treinar com os seniores, facto que era frequente até porque o plantel foi concebido curto para isso mesmo, não havia processo de integração. Porque só é preciso tal quando há um elemento estranho que é incorporado num sistema complexo. Ali não havia elementos estranhos. Quando faltava um defesa esquerdo era incorporado o dos juniores. Por vezes nem era dos mais talentosos, mas estava de tal forma identificado, que do corpo saí-lhe um jogo fluido, natural, que se encaixava na equipa senior perfeitamente. Nem era preciso o treinador estar mais centrado com aquele jogador pelo facto de ser "novo". Porque ele não era um jogador "de fora", era um jogador "à Paredes". Quando isso acontecia, tinha de trazer um dos juvenis aos juniores e... tudo igual. No final da época, o clube que já contava com 70% de jogadores da região, procurou passar a 90%, integrando mais 3 jogadores dos juniores (o Amaro, o Guedes e o Joel, que até tinha
entrado entretanto para a Universidade), reduzir ainda mais no orçamento a fatia dos seniores para fazer face a problemas financeiros do Clube e tentar melhorar ainda mais as condições da Formação. Na época seguinte a equipa senior desceu à III Divisão na última jornada e por diferença de golos no confronto directo. Muitas pessoas viram
nisso um fracasso do projecto, mas não era... Era para mim um risco natural que se tinha de aceitar... Outros objectivos primordiais estavam a ser atingidos: Sanear financeiramente o Clube, valorizando para isso activos (jogadores) que eram recursos do clube, continuar passo a passo a melhorar a qualidade da formação para tornar
sustentável esta filosofia. Isto é SUCESSO!!! O Clube pode voltar à II Divisão mais tarde, mas nessa altura de uma forma sólida, sem problemas financeiros, sem dívidas e atrasos nos vencimentos, com melhores treinadores em todos os escalões, que são pagos e querem continuar no clube, jogando até um futebol de qualidade superior em
todas as equipas, com um Modelo de Jogo e de Treino entretanto mais evoluído, com mais apoio dos sócios que têm no Clube o neto que joga nos Infantis, o filho do amigo que joga nos séniores e é treinador dos Escolas, o capitão que já está no Clube há 12 anos e que ele já conhece desde pequeno, com mais gente no estádio, com mais mística,
etc, etc... Mas isto só é válido para quem estiver disposto a apoiar a Ideia de Clube durante pelo menos 7 anos. Até lá é preciso acreditar, só vê progressos e sucesso quem entende. Depois disso basta olhar, já qualquer um vê o êxito e nessa altura as coisas tornam-se mais confortáveis, dão-nos mais crédito e espaço de manobra, resta continuar a renovar os objectivos e e enriquecer a NOSSA IDEIA.
Por isso, e para terminar, reforço: É POSSÍVEL.

Um abraço

Miguel Lopes