terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma questão pertinente

Que eventuais vantagens temos em jogar com os extremos trocados (trocados no sentido do pé mais forte)?

Utilizando o caso concreto do FC Porto como exemplo, que diferenciação há entre ter Varela na esquerda ou na direita?

8 comentários:

  1. Boa questão e um título perfeito. "pertinente" - é mesmo esse o nome para uma questão como esta.

    Há quem diga que, quando um extremo joga do lado do seu pé mais forte, é porque se pretende que este cruze com maior frequência, esperando que os cruzamentos sejam mais eficazes por serem do lado do pé forte. Assim como, quando o extremo joga do lado do pé menos forte, se pretende que este tenha outro tipo de moveimentação, nomeadamente mais interior, um pouco à imagem do que fazia Simão no SLBenfica, com o seu tipico movimento em paralelo à grande área, de fora para dentro, culminando quase sempre com um remate. Este tipo de situações acontece com Lionel Messi e C Ronaldo por exemplo !
    No entanto, no FCPorto 5-1 SCBraga, Silvestre Varela jogou do lado esquerdo do ataque portista e, curiosamente, obteve duas excelentes assistências através de cruzamentos com... o Pé Esquerdo ! Ou seja, o facto de jogar no lado do seu pior pé, provavelmente com o objectivo de aproveitar o espaço entre-linhas deixado por um adversário que entrou no Dragão com o objectivo de jogar cara-a-cara, não invalidou, neste caso, que o Varela brindasse a equipa com 2 cruzamentos para golo com o seu pior pé, no seu pior lado.

    Mas, fugindo um pouco a este exemplo, mas sem o colocar de parte, a 1ª grande vantagem que se pode retirar com um extremo no lado do seu pior pé, é sem duvida, uma grande tendeência natural do jogador em procurar o seu melhor pé, entrando assim, em espaços interiores, o que garante não só um aproveitamento dos espaços entre-linhas (como o FCPorto o fez frente ao braga de forma demolidora), assim como uma maior capacidade de posse em zona interior (à imagem do Barcelona, que garante uma enorme circulação de bola proximo a área adversária e de frente para a baliza) e ainda um poder de fogo (remate) mais forte com um extremo a explorar o espaço interior com o objectivo de desiquilibrar através do remate.
    Esta é, para mim a grande vantagem de um extremo no lado do seu pior pé - Aproveitamento do espaço interior.

    Quanto a desvantagens, vai depender do que o treinador quiser retirar da situação. O jogador pode cair na tentação de entrar no espaço interior e o treinador não o querer, e isso origina uma desvantagem. Fora este caso, a grande desvantagem será, sobretudo, uma possivel redução da qualidade do cruzamento do extremo.

    João Ferreira

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  2. Uma questão pertinente a arrastar outras "questões pertinentes". Em primeiro lugar, esses pormenores são absolutamente determinantes para a emergência de uma determinada dinâmica no nosso jogo. Desta forma, considero que que é necessário reflectir-se acerca de todas as questões que podem contribuir para o nosso jogo. Particularmente, o pé mais forte e os extremos. Ou até o pé mais forte e os laterais, os interiores, quem quer que seja (porque todas as posições "importam" no nosso jogo). Colocar um jogador numa determinada posição do campo tendo em conta essas características, é contar/prever uma série de movimentos. O que é muito importante, porque são as respostas individuais, nestes contextos, que vão permitir influenciar todo o jogo da equipa.

    Uma chamada de atenção: é importante, neste sentido, que se façam essas previsões "individuais" integradas em relações mais alargadas: sectoriais, intersectoriais e até colectivas. Um exemplo concreto: se jogamos com um lateral esquerdo sempre a dar profundidade na largura, e com grande capacidade de drible e cruzamento de pé esquerdo, não serão as características do extremo desse lado importantes para que essa relação se consolide? Neste contexto, poderá haver um extremo de pé trocado, que puxe para dentro. Desta forma, abre a faixa para um lateral que gosta de penetrar nesse sentido, e usa outros espaços.
    Ora, esta relação evidencia-se neste prisma. E, pelo caminho que exemplifiquei, também podíamos (e deviamos) reflectir sobre as caracteristicas do interior que tinhamos daquele lado, entre muitas outras questões.

    Assim, aparecem jogadores que, com determinados colegas em determinadas posições, são "apagados" do jogo, e outros sobrevalorizados. É tudo uma questão de interacções.

    O fundamental, no meu ponto de vista, é prever tudo isto. E, mais que prever, mexer nessas relações para criar o que queremos. Daí que qualquer que seja a tarefa, o trabalho na gestão de uma equipa de Futebol é muito mais profundo daquilo que parece à primeira vista. E tudo (ainda que mais microscópico que pareça) tem a sua quota parte de influência.

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  3. Um Jogador que jogue do lado contrário relativamente ao seu pé mais forte, pode ter várias formas de se ajustar, depende das particularidades de cada um (o lado micro, do detalhe)... se for o Quaresma faz do direito esquerdo... Se for o Messi joga preferencialmente com o seu pé forte... O Varela passa a usar o pé mais fraco (pelo menos contra o Braga...)!

    Falando então no Varela (jogador que serve para um tipo de jogo que não gosto), parece-me que perde em termos de agressividade, tanto com bola como a aparecer no espaço, pois ele do lado direito é bastante penetrativo, aparece mais em zonas interiores (para receber ou a conduzir) aproveitando espaço nas costas do lateral, para penetrar ou para "pedir entradas da bola entre central-lateral. Acho que esta é uma das diferenças... a predisposição para receber a bola no espaço, ou para penetrar através do primeiro toque, sendo que em ambos os caso, se quiseres aproveitar a vantagem, é melhor receberes com o "pé de fora".

    João Baptista

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  4. Concordo plenamente com a questão do Lateral, foi algo que me escapou no comentario.
    Aliás, no caso concreto do FCporto, com LAterais tão ofensivos como o Alvaro e o Fucile, e se calhar até jogaria quase sempre com extremos trocados. No entanto, já que se falou nos interiores, eu preferia jogar com interiores, não só capazes de pensar o jogo, mas sobretudo com grande capacidade posicional, isto porque, a meu entender, este fcporto perde por não ter um pivô que pense o jogo interior e crie variabilidade no jogo.

    Veja-se como uma simples questão de um extremo de pé trocado pode levar a uma discussão sobre dinamicas de uma equipa !

    João Ferreira

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  5. Antes de comentar o facto de um extremo jogar do lado do seu pe mais fraco, não pude deixar de ler todos os comentários dos quais estou em acordo e desde já também agradecer e louvar o Rui Pedro por mais uma vez criar um blog cheio de aspectos ricos do nosso grande amor FUTEBOL e por nos possiblitar trocar ideias uns com os outros onde sem dúvida vamos poder adquirir mais conhecimentos.
    Relacionado com a questão em si não posso deixar de realçar sem dúvida o facto de um extremo que jogue do lado do seu pé mais fraco apresentar como principal arma as suas penetrações em espaços mais interiores onde poderá com mais facilidade rematar à baliza adversária, não tendo como principal função servir o ponta de lança.
    Podemos ainda dizer que o pé fraco é sem dúvida mais ineficaz no que toca a criar, a driblar entre outros aspectos mas no que toca a decidir o que fazer a decisão acaba sempre por ser executar movimentos e acções simples mas eficazes, e sem dúvida o passe rasteiro é o mais simples onde o Varela conseguiu realizar duas assistências para golo.
    Visto isto podemos também destacar o facto de o Alvaro Pereira ser um lateral capaz de fazer corredor sozinho o que possibilita ao Jesualdo colocar um extremo como o Varela daquele lado para flectir para o interior e preocupar-se em jogar menos na ala propriamente dito, podemos também destacar o lado forte da equipa do Braga que é o lado esquerdo com dois jogadores super explosivos e que na minha opinião não vão tardar em sair para clubes de maiores dimensões (Evaldo e Mossoró, este último que já não jogava a tres jornadas e daí vinha com grande fome de bola) e que por estes motivos a colocação do Mariano daquele lado funcionando mais como um jogador de apoio defensivo, funções que já desde que joga no Porto assumiu muitas vezes.

    Troca de ideias muito pertinente onde sem duvida estas pequenas questões são a base da nossa paixão. Espero poder continuar a crescer com estes nossos debates.


    João Baía

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  6. Tem-se falado nas vantagens e desvantagens... mas apenas quando a "nossa equipa" tem a bola, e então se nós estivermos a defender?! Será que é mais fácil defender do lado contrário relativamente ao pé forte?! Depende... depende do local para onde queremos direccionar o adversário!
    O pé forte não o é apenas para rematar, passar, driblar, etc. é também forte para defender, pois os esquerdinos desarmam ou bloqueiam remates mais facilmente com o pé esquerdo, na colocação dos apoios sentem-se mais confortáveis com o pé esquerdo à frente, ou seja direccionam mais facilmente o adversário para a "nossa" direita! Assim a vantagem em termos defensivos depende se queremos encurralar o adversário no interior da nossa equipa, ou se pelo contrário pretendemos direccioná-lo para as linhas!

    João Baptista

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  7. Exactamente essa questão das funções defensivas caro João Baptista são também muito importantes e mesmo no caso do varela, provavelmente, os médios interiores procuravam fechar as linhas e pressionar os jogadores do corredor onde ele jogava, pois na minha opinião o varela ali jogou mesmo como um avançado e não tanto como um extremo, não como segundo avançado como é o caso do Saviola no Benfica mas mais como um henry cujo a tendência de jogadores como o iniesta e o yaya procuram executar as suas acções mais defensivas desse mesmo lado...é tudo uma questão de equilibrio e de um todo que é alterado e joga em função das alterações não só na própria equipa, mas como dos adversários entre outros "estimulos"...em relação a levar a equipa adversária para determinada zona no campo concordo e na minha opinião o porto tentou mesmo isso, levar o jogo do braga para o lado direito da sua defesa(lado esquerdo do ataque bracarense) além de que, apesar de eu não ver muitos jogos do Porto, daquilo que vejo e avalio, o Varela quer do lado esquerdo quer do lado direito não é um jogador que executa muitas acções defensivas, aliás ele era um jogador de rotinas de ponta de lança e secalhar dai a nunca ter criado outras rotinas defensivas, onde uma das que consigo encontrar e o pressing que faz durante os jogos que e mesmo uma caracteristica de avançado centro.

    João Baía

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  8. É lógico e completamente perda de tempo a culpabilização das derrotas com base das actuações dos árbitros!

    Mas também é um facto que no futebol português o arbitro é e será sempre o bode expiatório pela simples razão da não aceitação de uma má prestação da "nossa equipa"! quase como não conseguimos aceitar defeitos em nós e não conseguimos ver quando falhamos, da mesma forma não aceitamos que a nossa equipa perca porque jogue mal, mesmo quando as evidencias nos "saltam aos olhos"!

    Isto trata-se assim de uma típica visão do 'adepto' português. Este que influenciado por todo um contexto de mentalidade portuguesa não consegue fugir a toda esta influencia e reage assim de forma instintiva e não de forma reflexiva e racional.

    BS

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